quinta-feira, 16 de junho de 2011

O que é oração? (Parte 1 de 2)
Será que podemos encontrar uma definição bíblica para oração?

De fato, não há na Bíblia um conceito explícito do que seja oração. Não há fórmulas que a rotulam. De modo implícito, as Escrituras trazem diversas definições que se convergem a um ponto em comum. Nesse sentido, a oração é uma via de mão dupla por meio do qual o servo de Deus chega à sua presença. Durante esse sublime momento, o Pai responde aos anseios do filho, como bem declara Jeremias 33.3: “Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes”.

Só pode haver oração sincera quando há intimidade com Deus. A oração é fruto de um relacionamento pessoal e único com o Senhor. Na oração, não apenas falamos, mas precisamos também estar dispostos a ouvir o que o Pai tem a nos dizer. O Espírito Santo age como intérprete nesse diálogo entre o Deus e o homem. “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos” (Romanos 8.26,27).

A Palavra de Deus nos mostra claramente momentos marcantes na história da humanidade que foram vividos em oração, como em 2 Reis 6.17: “E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu”.

Assim como nosso corpo físico necessita de nutrientes para sobreviver, nossa natureza espiritual precisa ser diariamente fortalecida através da oração. A oração eleva o espírito humano, pois revela uma profunda amizade com Deus que tem como resultado um satisfatório crescimento espiritual.

Os heróis da fé, descritos no capítulo 11 de Hebreus, exercitaram sua fé por meio da oração. “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar (vv. 17,18). Abraão confiou em Deus dando seu próprio filho como sacrifício. Eis um grande exemplo de intimidade com Deus! Abraão somente confiou. Outro exemplo foi Enoque, um homem que vivenciou a oração de modo tão profundo que a Bíblia o denomina como aquele que andava com Deus (Gênesis 5.24).

Moisés abriu mão da honra e das riquezas dos palácios egípcios em prol de possuir intimidade com o Pai. Moisés deixou todas as riquezas materiais da realeza porque preferiu falar face a face com Deus e manter estreita comunhão com ele por toda a vida.

Dentre os profetas, podemos destacar Elias. Tiago o aproveita como exemplo para nos ensinar que a oração do cristão pode muito em seus efeitos: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto” (Tiago 5.17,18). É o exemplo da oração que supera as deficiências e limitações humanas pela graça do Senhor.

Esses homens de Deus não viveram na dispensação do Espírito Santo, mas ainda assim experimentaram a presença do Pai de maneira tão intensa e única. E quanto a nós, que contamos com o auxílio permanente desse Espírito? Imagine as coisas que somos capazes de realizar através da oração e da fé em Cristo! Todos os salvos podem ter a mesma vida de oração que os santos da Bíblia tinham e expressar a ação e o mover de Deus através de suas atitudes.

O maior exemplo da oração eficaz

Cristo nos ensinou algo maravilhoso. Mesmo sendo filho de Deus, possuindo atributos divinos que, de certa forma, asseguravam o direito de agir sobrenaturalmente, Jesus não abriu mão da oração. Ele poderia dispensar a oração como prática constante em sua vida na terra, pois era divino. Mas não o fez! O Salvador, enquanto caminhou por esta terra, abriu mão de sua divindade, esvaziando-se de suas prerrogativas celestiais. Tornou-se humano, assumindo em plenitude a natureza humana. “[Jesus] que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Filipenses 2.6-8).

Jesus passou por todas as situações que você e eu passamos diariamente, pois estava confinado a um corpo humano, sentindo as mesmas dificuldades e provações que sentimos. Mesmo sendo tentado, o Salvador não cedeu. Ainda que estivesse limitado em um corpo físico e corruptível, seu espírito era maior, sua misericórdia era imensurável e sua confiança em Deus, inabalável. Cristo jamais pecou (Hebreus 4.15).

Jesus conhecia muito bem o significado da oração. Ela representava a única maneira de conversar com Deus. Jesus se fez homem, por isso havia uma relação de subordinação, pois, como para qualquer outro ser humano, a oração se fazia necessária para que pudesse servir ao Pai integralmente. Jesus estava constantemente orando, pois precisava ouvir a voz de Deus. De que outro modo poderia fazê-lo? Através da oração, Cristo suportou as afrontas, não dando lugar ao pecado, tomando sobre si o peso da cruz e vencendo o maligno.

Certa ocasião, Jesus desejou ensinar aos seus discípulos o precioso valor da oração. Eles, porém, não foram capazes de entender a atitude de Cristo. “Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo. E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26.36-39).

Ao retornar, Jesus encontrou seus discípulos dormindo. Com profunda decepção, o Salvador perguntou a Pedro: “Será que vocês não são capazes de orar comigo durante apenas uma hora?”. Ele ainda os ensinou mais uma grande verdade: Somente através da oração é que somos capazes de vencer as tentações do mundo. “O espírito está pronto, mas a carne é fraca”, disse Jesus (v. 41). A carne representa nossa natureza humana, extremamente corruptível e facilmente seduzida pelos prazeres desta vida. Cristo se manteve firme até a morte porque a oração o amparou durante todos os acontecimentos relacionados à sua crucificação. Mesmo possuindo um corpo humano fraco, através da oração, ele permaneceu em estreita comunhão com Deus, sempre objetivando cumprir seu desígnio na terra.

Os evangelhos nos mostram que Jesus possuía uma vida de oração. Não estou me referindo a uma prática com hora marcada e com tempo determinado de duração, pois oração não se trata disso. Jesus orava pela manhã (Marcos 1.35), à tarde (Mateus 14.23) e passava noites inteiras em comunhão com Deus. “E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus” (Lucas 6.12).

Assim como Cristo viveu esse tipo de experiência durante as vinte e quatro horas de seu dia, nosso Pai espera essa atitude de cada filho seu. Não somente alguns poucos minutos, com palavras rebuscadas que expressam uma falsa espiritualidade, mas em todo o tempo, como oferta de um coração que se dispõe a permanecer humildemente no altar da oração.

Em Mateus 6.9-13, encontramos a verdadeira essência da oração. Não devemos tomá-la, no entanto, como uma simples fórmula a ser repetida, pois assim cairíamos no erro das vãs repetições dos gentios condenadas por Jesus. O texto bíblico não deve ser encarado como uma espécie de oração universal. Ele revela os principais aspectos que dão forma ao conteúdo da oração cristã, ensinados por Jesus: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém”.


Renato Collyer

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